HISTÓRIA
De acordo com os historiadores, em eras remotas, a Europa e a África estavam ligadas por terra, até que, após um cataclisma geológico separaram-se pela abertura do Canal de Gibraltar. Assim sendo, ambas margens do Mediterrâneo foram ocupadas por uma fauna e flora da mesma espécie e homens de uma mesma raça.
Esses primeiros homens da Península Ibérica eram os Iberos, segundo consta, de estirpe Bérber e Amascirga; descendentes respectivamente de Ber, filhos de Ker e netos de Absalam, um dos primeiros reis do Egito, e, de Mascirg, netos de Can.
Os Iberos era, pois, povos nômades, pastores, oriundos também do planalto central da Ásia, no Himalaia, considerado o berço do gênero e da civilização humana, onde se encontram os três tipos fundamentais da espécie humana: brancos, pretos e amarelos.
De acordo com Desmolium, os homens daí emigraram pelas seguintes rotas:
A – Rota das Tundras: partindo do norte do planalto central da Ásia, seguiram para a Sibéria e zona polar;
B – Rota dos Celtas: partindo do oeste do planalto central da Ásia, próximo ao Mar Cáspio, seguiram pela Rússia, Rumânia, Alpes, França, Pirineus e Espanha.
C – Rota das Estepes: partindo do sudeste do planalto central da Ásia, seguiram pelo Afeganistão, Armênia, Ásia Menor, África, atingindo daí o sul da Espanha.
Conforme já foi dito, o planalto do Himalaia, próximo ao Lago Balkash é também considerado o berço onde se desenvolveram os cavalos próprios do local ou vindos da América, e daí seguiram juntamente com os povos nômades.
Segundo Pietrement, os cavalos aí encontrados eram os seguintes:
a) Equus Caballus Asiaticus (raça Ariana, que deu origem ao Árabe), de cabeça quadrada, perfil reto, braquicéfalo (crânio mais largo que comprido), garupa horizontal, tendo a seguinte fórmula vertebral:
7 cervicais, 18 dorsais, 6 lombares e 5 sacras.
Esses cavalos foram domesticados pelos Arianos, na primitiva Ariana, região situada na parte oriental do Lago Balkash, conhecida hoje como Semisetché, seguindo pela Rota dos Celtas para a Europa e pela Rota das Estepes para a Pérsia, África e Espanha.
b) Equus Caballus Africanus (raça Mongólica, que deu origem ao Bérbere), de cabeça quadrada, braquicéfala, perfil subconvexo, garupa caída, tendo a seguinte fórmula vertebral:
7 cervicais, 18 dorsais, 5 lombares e 5 sacras.
Esses cavalos seguiram pela Rota das Estepes paralelamente ao “Asiaticus”, atingindo a Ásia Menor, Pérsia e África, sendo os primeiros a atingir o sul da Espanha. Com esses elementos históricos, podemos entender por que todos os estudiosos do Cavalo Andaluz estão concordes em afirmar que o cavalo autóctone da Península Ibérica é o mesmo do Norte da África, isto é, o Cavalo Bérbere, influenciado pelo Árabe, durante sua emigração pela Rota das Estepes. Fato, aliás, que pode ser comprovado pelas cerâmicas e pinturas encontradas na Espanha, como a de Leria, na qual aparecem tipos de cavalos com perfis frontais subconvexos máximos, médios e mínimos.
Essa raça, dada às condições excepcionais do solo e do clima do sul da Espanha, teve grande desenvolvimento, no entanto, tendo a Espanha sido invadida por diversos povos, uns mais, outro menos, influenciaram sua civilização e seu rebanho cavalar.
INVASÃO DOS CELTAS
Nos séculos XV e XIV a.C., a Espanha foi invadida por Celtas, vindos do Oriente através da Europa, os quais divididos em diversas tribos (Bascos, Cántabros, Astures, Galaicos e Lusitanos), trouxeram eles pequenos cavalos de 1,25 m de origem asiática, muito resistentes, que cruzando-se com os autóctones das regiões montanhosas da Espanha, também de pequena alçada, formaram o rebanho de pôneis da região norte da Espanha: Vascos, Navarros, Asturianos e Galegos.
INVASÃO FENÍCIA
Posteriormente chegaram à Espanha os Fenícios em suas rústicas embarcações, porém tanto eles como os Gregos, em nada influenciaram sobre os cavalos Espanhóis, que já naquela época, eram considerados sóbrios e de grande velocidade, como relatou Mr. William Ridgeway em seu livro: “The Origin and Influence of the Thoroughbred Horse”.
INVASÃO CARTAGINESA
Durante a Invasão Cartaginesa na Espanha, nos anos de 221 a 199 a.C., Aníbal trouxe numerosos cavalos da Numídia (Argélia), notáveis pela sua velocidade; e posteriormente Asdrúbal trouxe 20.000 cavalos Líbios, os quais vieram reforçar o sangue Bérbere da raça autóctone da Espanha.
INVASÃO ROMANA
Após os Cartagineses, no ano de 205 a.C., os Romanos invadiram a Península Ibérica, fundando a Bética. A hegemonia de Roma sobre todo o mundo civilizado determinou cruzamentos de várias raças de cavalos dos povos subjugados, ocasionados pelos deslocamentos das tropas romanas de um a outro lugar.
No entanto, na Espanha o domínio de Roma pouco influiu sobre seu rebanho cavalar, pois as Legiões Romanas preferiam também montar mais os cavalos Númidas e Mauritânios do que os de qualquer outra parte do Império, e, estes eram da mesma origem dos cavalos da Espanha.
Os Romanos procuraram desenvolver a criação de cavalos suprindo sua cavalaria rápida e levando-os para as corridas em circo.
INVASÃO BÁRBARA
No ano de 409 da nossa era , a Península Ibérica foi invadida por três povos bárbaros: os Suevos no norte e os Álanos na parte central, que em nada influenciaram sobre o rebanho cavalar, porém os Vândalos, apesar do pouco tempo que dominaram a Bética (parte sul da Espanha) e à qual deram o nome de Vandalúcia, influíram bastante sobre o rebanho dessa região, atingindo depois o norte da África.
Estes introduziram o Equus Caballus Germanicus (cavalos germânicos) de grande porte, perfil muito convexo (acarneirado) e caráter basto e linfático, que influiu negativamente sobre o rebanho espanhol.
INVASÃO MUÇULMANA
No início do Século VIII os Árabes, partindo da Arábia, empreenderam a Guerra Santa, e após dominar a Ásia até o Cáucaso, a Índia e o norte da África, lançaram-se à conquista do continente europeu. O primeiro país a ser ocupado foi a Espanha. A expedição do ano 710, comandada por Tarik ibn Malluk, trouxe apenas 300 infantes e 100 cavaleiros; no entanto as expedições de Tarik ibn Ziyad (bérbere norte africano) no ano de 711 e de Musa bem Musair no ano de 712 com 30.000 cavaleiros, expulsaram os bárbaros dominando a Península Ibérica em pouco tempo, chegando em 732 até as planícies do Camargue, onde foram derrotados na Batalha de Tours, na França.
Com essa derrota, os Árabes viram-se obrigados a abandonar seus planos de conquista de todo continente europeu, dedicando-se ao progresso da Península Ibérica, que passou a ser chamada de “Al Andalus”, e tendo como capital do emirato a cidade de Córdoba.
O fato dos Árabes terem dominado a Península Ibérica em menos de vinte anos, enquanto os Romanos levaram quase dois séculos para isso, deve-se ao fato de possuírem uma aguerrida e ágil cavalaria, que se impôs à nação conquistada rapidamente e em vários pontos ao mesmo tempo.
Durante os oito séculos de sua dominação na Península Ibérica, os Árabes transformaram “Al Andalus” num do países mais ricos e avançados da Europa, dedicaram-se ao progresso no campo das artes, da cultura e da economia.
Fundaram várias bibliotecas, universidades, desenvolveram a música, letras, astronomia, navegação, geografia, matemática, física, química e medicina, chegando mesmo a adotar a vacinação preventiva.
Foi, no entanto, na Agropecuária que os Árabes solidificaram o progresso da nação, construíram gigantescas obras de irrigação, introduziram novas técnicas agrícolas, levaram à Europa cultivos até então desconhecidos, tais como: o arroz, cana de açúcar, espinafre, laranja, limão, pêssego, tâmara, romã, figo, banana e algodão.
Dedicaram especial atenção à criação de cavalos, pois já os selecionavam há séculos antes da “Guerra Santa”, pois Alá teria dito ao cavalo:
“- Serás para o Homem um manancial de venturas e riquezas, instrumento de glória para os que me conhecerem e adorarem; açoite e ruína aos que não seguirem minhas leis.”
Assim, Emires e Califas chegaram a ter magníficas criações de cavalos na região de Andaluzia, estudando cruzamentos e selecionando escrupulosamente os reprodutores, legando à posteridade uma das melhores raças de cavalos que se teve notícia e, que influenciou praticamente todas as raças existentes na época: “ a Raça Andaluza”.
Dos cruzamentos entre reprodutores Árabes Turcomanos de grande alçada trazidos da Pérsia e dos Bérberes das melhores linhagens do norte da África, com a base autóctone existente, resultaram dois tipos de cavalos:
- o Árabe – Andaluz de perfil reto;
- o Bérbere – Andaluz de perfil subconvexo, e em menor número, os de perfil convexo (acarneirado) descendentes dos linfáticos cavalos Germânicos trazidos pelos Vândalos.
TEMPERAMENTO
Pertence à categoria “Warm-blut”, isto é, sangue quente e, sendo seu temperamento acentuadamente sangüíneo, com grande potência digestiva, o que o torna muito sóbrio e precoce, tanto que em igualdade de condições com outras raças torna-se melhor do que elas, desenvolvendo-se bem mesmo em condições precárias de alimentação, onde a maioria das outras raças finas pereceriam.
Sua manutenção torna-se, assim, mais econômica que a de outras raças, principalmente da Puro Sangue Inglesa.
Em razão de seu metabolismo, atinge idades avançadas em perfeitas condições para o trabalho e reprodução.
DESCRIÇÃO
O cavalo Andaluz pertence ao tipo muscular atlético de ‘kronacher’, caracterizado pelo bom desenvolvimento dos ossos e dos músculos, perfeita harmonia entre as várias partes do corpo, metabolismo médio e grande resistência física, o que é, aliás, uma de suas características principais. Apresenta maior amplitude na região torácica sobre a abdominal, dentro de um perfeito equilíbrio entre ambas.
"Seu tamanho é médio, no entanto as proporções e a beleza de suas formas com extremidades finas e enxutas, a garupa arredondada, os movimentos ágeis e garbosos de suas pernas, o pescoço erguido de garça que mantém com orgulho, agitando e sacudindo suas abundantes crinas; a cabeça pequena onde brilham dois olhos de fogo, cheios de inteligência e graça, suas pequenas e atentas orelhas e o conjunto total de suas formas completam o mais bem acabado modelo de raça cavalar...”
UTILIZAÇÃO
É um cavalo muito fogoso, alegre, inteligente e nobre, tendo muita facilidade para o aprendizado.Seus movimentos são ágeis, elevados e extensos, enérgicos e suaves, com grande facilidade para quaisquer movimentos, especialmente para a reunião. Estas qualidades fazem o Cavalo Andaluz especialmente próprio para o hipismo amador e principalmente para o adestramento, onde executam quaisquer movimentos de “Alta Escola” com mais graça e beleza. Por essas qualidades é que vêm sendo apresentados há mais de 400 anos pela Escola Espanhola de Equitação de Viena, na Áustria, e aplaudidos por quase todos os povos do Mundo.
Mais recentemente também têm sido apresentados pela Escola Andaluza de Arte Eqüestre, doma de campo e mesmo na tração ligeira de luxo.
Pela sua agilidade e coragem invulgar, sua sobriedade e resistência são inigualáveis na dificílima arte do “toureio a cavalo”.
Assim, levando-se em conta seu temperamento de sangue quente passando, se solicitado de calmo à ardente num tempo estímulo-reação breve, sem atingir, no entanto, o nervosismo e a irritabilidade dos Árabes e dos Puro Sangue Ingleses, e, passando de ardente a calmo, igualmente, aliado à sua docilidade, inteligência, suavidade e firmeza de membros, o tornam sem dúvida alguma, um dos cavalos mais completos do mundo para o hipismo amador, para a montaria de fins de semana e para os trabalhos agropecuários, além de ser ótima base para a formação de cavalos de hipismo de “categoria olímpica” se cruzados com as raças especializadas para hipismo formadas pelo Puro Sangue Inglês.
Pois aí poderíamos aliar a generosidade, a docilidade e a rusticidade do Andaluz com o galope, a força e a energia do Inglês, numa combinação psicossomática ideal para a função desejada.
IMAGENS
Fonte: "Cavalos" - Elwyn Hartley Edwards (Editora Ediouro)